Suicídio e sua divulgação na imprensa – CERTO OU ERRADO?
Sem consenso na imprensa e no meio científico, falar sobre o tema ajuda ou prejudica?

O Setembro Amarelo está aí e com ele as campanhas de prevenção e conscientização sobre o suicídio. Nesse sentido, a imprensa se soma ao imperativo de estar ao lado da verdade, com o dever de informar, mas balizada pela ética profissional que deve nortear toda atividade.
Em se tratando de tema tão delicado, sempre há discussão quando se trata de divulga-lo ou não. Existe até a máxima que prega que quando se tornam públicas ocorrências desse tipo, outras pessoas se sentem encorajadas a fazer o mesmo, como que um suicídio acabasse por desencadear outros. Esse é o chamado Efeito de Werther, alusão ao personagem do livro “Os Sofrimento do Jovem Werther” de autoria do alemão Johan Wolfgang Von Goethe. No livro, Werther se apaixona por Charlote, porém ela se casa com Albert, para quem tinha sido prometida. Sem ter como resolver seu triangulo amoroso, Werther se suicida. Com o tempo homens passaram a imitar o personagem, porém a interpretação foi mais além, muitos se mataram em condições parecidas com as da obra ou tinham uma cópia do livro. Estudos posteriores confirmaram essa relação.
O fato é que não há um consenso na imprensa, tampouco entre a ciência quanto ao fato de ser prejudicial ou benéfico falar sobre o assunto.
É certo que alguns órgãos de imprensa, na busca por cliques se valem da divulgação espetaculosa envolvendo pessoas que tiraram a própria vida, e isso certamente é prejudicial, além de contrariar a ética profissional. Nessas publicações, mostram-se métodos, cenas, cartas suicidas que tornam o fato em um verdadeiro circo de horror.
Há, no entanto, uma linha de pensamento que se apoia no parecer de profissionais de saúde, que consideram válido a divulgação, tomando as devidas precauções. Segundo o que essa vertente acredita, dependendo da maneira pela qual se aborta o tema, é possível quebrar o tabu e contribuir para que pessoas em situações semelhantes busquem ajuda. Falar em como a pessoa estava antes de cometer o ato final, o motivo pelo qual ele fez isso, seria uma forma respeitosa e educativa ao mesmo tempo. A Organização Mundial de Saúde estima que 90% dos casos de suicídio poderiam ser prevenidos, daí a importância de falar sobre ele.
Não há uma causa única para o suicídio, sendo ele o resultado de uma conjunção de fatores, como sociais, psicológicos, orgânicos e genéticos, com a depressão ganhando destaque na atualidade. Ele ocorre em todas as classes sociais e em diferentes partes do mundo. Estimativas apontam que cerca de 700 mil pessoas se matam a cada ano. Esse número é maior que as mortes por AIDS, malária, câncer de mama, guerras e violência urbana.
De qualquer forma, o profissional que vai redigir uma matéria com esse pano de fundo deve se perguntar: Por que divulgar? Vai contribuir para melhorar a vida de alguém? Se a resposta for sim, é preciso fazê-lo de forma respeitosa e instrutiva, divulgando os contatos do CVV – Centro de Valorização da Vida, telefones de emergência, e serviços de saúde.
E você, o que pensa sobre o tema?
CVV – número 188 ou www.cvv.org.br