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Sete dias sem Tiaca-Tiaca

Relembre a historia do dono do bar mais famoso de Dom Pedrito

Hoje completa sete dias sem Tiaca-Tiaca. Dono de um carisma próprio, Tiaca soube conquistar ao longo de várias décadas de trabalho, o carinho e o respeito de todos e sua morte de na quarta-feira passada (14), comoveu a comunidade pedritense. Entretanto, é sua vida e sua história que seguirá gravada na lembrança de várias gerações.

Relembre abaixo na matéria publicada em abril de 2023.

Falar sobre essa personalidade pedritense não é tarefa fácil. Gumercindo Aballô Brum é praticamente uma unanimidade em termos de carisma na comunidade local. Mas como surgiu esse apelido que terminou por dar nome ao bar mais tradicional da cidade ainda em funcionamento? Ah isso nós vamos contar mais adiante. De início, falemos um pouco de sua origem.

Tiaca como é conhecido, nasceu em seis de junho de 1950, nas dependências do hotel Central, em frente à Praça General Osório, hoje Hotel Alexandre. É fruto do segundo matrimônio de Francisco Torres Brum com sua mãe Célia Aballô Brum. Seu pai era estancieiro na localidade da Música, interior do município de Dom Pedrito – RS, e no total teve 15 filhos. Estudou o ginásio e científico (equivalentes ao ensino fundamental e médio de hoje), na Escola Nossa Senhora do Patrocínio.

Uma nobre ancestralidade

Uma curiosidade é que Gumercindo é bisneto de um dos primeiros comerciantes de Dom Pedrito – Ramón Antônio Torres, Uruguaio que construiu em 1850 uma casa ao lado do passo do Rio Santa Maria – Casa do Passo – e ali estabeleceu um forte comércio. O local também foi sede do vice-consulado do Uruguai no Brasil. Certamente vem daí a veia comercial e o dom para atender o público herdado por Gumercindo.

Tiaca contou que, quando rapaz – 1970 até 1977, aproximadamente, trabalhava em um atacado aqui em Dom Pedrito – Vian & Romani e depois em um engenho de arroz – Romani, Vian & Vian, na área da contabilidade. Nessa época um dos proprietários deixou a sociedade desse engenho e montou um armazém perto do Dom Pedrito Country Clube. O comércio não prosperou e Tiaca ganhou alguns equipamentos do antigo patrão (Um balcão refrigerado está no bar até os dias de hoje). Foi aí que Gumercindo montou seu primeiro Bar, no local onde hoje funciona o Minimercado Tiaca Tiaca, Isso era no ano de 1976.

A origem do apelido

Em 1985, questões familiares fazem com que ele deixe o engenho e passe a se dedicar exclusivamente ao bar, que ainda não tinha o tradicional nome, que surgiu da seguinte maneira: Frequentemente Gumercindo ia até um escritório para apanhar algumas guias. Nesse local havia um funcionário que com uma máquina de escrever preenchia o documento, só que de uma forma muito lenta, usando apenas dois dedos, ao que aos ouvidos de Gumercindo era um som como “tiaca, tiaca, tiaca”. A impaciência em esperar o documento fez ele mesmo apelidar o servidor como esse nome. Não deu outra, o apelido pegou nele próprio. Daí para o bar foi um pulo, o bar do Tiaca virou a identificação do local. Só restava denomina-lo oficialmente – Bar Tiaca Tiaca.

A partir de 1997 Tiaca passou a ter o bar aberto 24h, por conta da reclamação de um viajante, que não teria encontrado nenhum estabelecimento aberto em uma hora bastante avançada. No ano de 2005, uma promotora de justiça que morava na mesma quadra encampou uma campanha para fechar o bar a partir de determinado horário, que era frequentado por um público muito grande e gerava consequentemente um movimento intenso, centro da cidade que é. Sabe-se que houve uma carreata em apoio ao dono do bar e a história acabou esfriando. A mesma iniciativa voltou a ameaçar o bar a cerca de quatro anos atrás, situação ainda sem definição.

Durante esses mais de 40 anos, incontáveis histórias, pessoas e acontecimentos se sucederam no bar do Tiaca. Gente de todas as classes, credos, identidades, partidos e outras classificações transitaram por aquelas dependências, seja para comprar, conversar ou simplesmente utilizar o banheiro. Uma porta aberta a todos os que precisassem de alguma coisa, é o que se encontra até hoje. O prestígio do local é tamanho que ele virou tema de música, eternizado na voz de João Antônio Farinha, com a canção Bolicho do Tiaca Tiaca.

Sai da porta meu filhinho e Tô loco que escureça

Esses são os nomes de Dois times de futebol criados em Dom Pedrito no ano de 2010 a partir de uma expressão do Tiaca que eventualmente precisava falar para alguém que ficava na porta do bar: “sai da porta meu filhinho”. A outra vem do desejo de algum “borracho”. Acontece que mesmo tendo o gracejo como origem, os times de futebol tinham uma função séria, a de juntar dinheiro para comprar brinquedos no Natal para as crianças carentes da cidade.

Apelidado de senadinho, em função das variadas opiniões e ideias que por lá circularam ao longo de tantas décadas, o espaço recebeu também personalidades importantes – Carlos Araújo, advogado e político ex-marido da presidente Dilma Rousseff; o ex-governador do Rio Grande do Sul Alceu Collares (oportunidade em que almoçou no bar); o deputado estadual Sedenir Martins; o grande advogado Mathias Nagelstein e tantos outros políticos e pessoas influentes que marcaram época, confirmando-se como um verdadeiro ponto de encontro.

Sobre o futuro, Tiaca conta que não pretende se afastar da atividade, devendo se dedicar ao bar, como ele próprio fala: “até o dia que Deus quiser”.

TROJAHN, Marcio Rodrigues. O Dono do bar mais famoso de Dom Pedrito. Dom Pedrito Fatos, Fotos e Cores, Dom Pedrito, 2ª edição, p. 12, 2022.

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