Família de catadores de Livramento é exemplo de gratidão

Hoje, o jornal A Plateia conta a história de vida de uma família que vive em um ambiente totalmente diferente do que se encontra na sociedade. A casa em que esta família vive, é literalmente construída e decorada com objetos que são descartados no lixo. Um ambiente enfeitado de alegrias e esperanças, apesar dos grandes problemas existentes, vivem uma realidade totalmente contrária do comum.
Em entrevista realizada ontem, 9 de agosto, na residência da família no Porto Seco, foi visto uma senhora acompanhada pelo filho e, em suas mãos, latas de tintas vazias. Isso chamou atenção a equipe do jornal A Plateia, que por sua vez constatou a dificuldade e realidade muitas vezes não vista, mas existente. Essa senhora chama-se Maria Terezinha de Moraes, 68 anos, que vive com o esposo Fortunato de Moraes, 70 anos e os 5 filhos que não souberam informar a idade. Em entrevista, foi questionada onde ela estava indo com as latas. A mesma explicou que, “Há mais de 25 anos moramos aqui nessa casa, meu marido e meus filhos.
“Estava indo buscar água em um açúde, pois não temos água e nem luz. Caminhamos cerca de 7 km e voltamos com água. Tomamos banho em um riacho que tem ali atrás, vamos sempre caminhando. É um tanto frio, mas precisamos tomar banho. Não temos banheiro e tão pouco água encanada.” Foi questionada a idade dos filhos, e para nossa surpresa, não souberam informar qual a idade correspondente de cada um deles. “Não sabemos quantos anos temos, posso mostrar minha identidade, nós nunca comemoramos aniversário.” acrescentou o filho do casal, Fortunato Egress.
Em conversa com Fortunato Egress, catador, ele diz que “Nossa família é trabalhadora. Meu pai é aposentado, mas ainda trabalha construindo cercas de pedras em fazendas. Um trabalho digno assim como o meu e de todos os trabalhadores. É um trabalho bem pesado. Minha irmã, Marta Regina, também trabalha construindo cercas e meu irmão José Otavio trabalha na horta. Temos uma horta aqui no terreno. Meus outros dois irmãos são especiais, sofrem de uma síndrome. Eu trabalho como catador, com reciclagem, ando por toda cidade, separo o material e depois vendo tudo que arrecadei para compradores interessados. Minha mãe fica em casa, cuidando das coisas da casa.”
Apesar das necessidades encontradas no local, o que também chamou atenção foi a fachada da residência da família. Fortunato Egress trabalha como catador, sendo assim, a casa é toda decorada com objetos encontrados no lixo. Uma casa composta de criatividade, “Enfeitamos tudo aqui em casa, organizamos tudo certinho, é o que temos. Encontro coisas legais no lixo, acho diferente e usamos para compor a fachada da casa. Está vendo o muro? Eu fiz com tampas de latas de tinta”.
“O altar na entrada da casa é porque Deus nos abençoa todos os dias. A entrada mesmo, todas essas latas foram encontradas no lixo. Eu acho muito bonito decorar. Temos bonecas por toda parte, pneus, latas, objetos diferentes. Tem coisas que eu não sei o que é, não conheço, mas achamos bonito e penduramos”.
“Cato ossos de animais, são utilizados para fazer louça, “porcelana”, ferro, papelão, plástico, entre outras coisas. Trabalho com reciclagem, só que ultimamente não estão pagando o valor correto, mas estamos bem, sobrevivendo. Vivemos assim, essa é a nossa vida, mas estamos todos juntos, trabalhamos, temos nossos cachorros, galinhas, fizemos nossa horta e é assim mesmo, somos felizes e gratos pela vida. Só nos falta luz e água, nem tanto água, porque estamos pensando em cavar um buraco e acumular a água da chuva”.
“Mas ficar no escuro, sem energia, é terrível. Desde que eu nasci não sei o que é ter energia elétrica em casa.” Para quebrar o galho, é utilizada uma bateria de carro para energia da casa. A casa é de chão batido, construída com madeiras, latas e objetos que foram descartados no lixo. “Não nos importamos, nos adaptamos a viver assim. Óbvio que não é algo que desejamos, mas é assim que vivemos; não se pode mudar rápido, com o tempo as coisas melhoram. Só deixo o pedido aos responsáveis para instalação de luz aqui na nossa casa.” Finalizou Fortunato Egress.
Marthina Martins / A Plateia