Assalto à Casa do Pedreiro
Em entrevista concedida à Qwerty, proprietários contam como foram os momentos em que os bandidos fizeram seis pessoas reféns

Passados três dias do assalto que marcou, não somente funcionários e clientes da Casa do Pedreiro, mas a comunidade pedritense como um todo, a reportagem da Qwerty Portal de Notícias procurou os proprietários do estabelecimento para uma conversa que, embora, de teor trágico, poderia elucidar muitos pontos. E foi assim que na manhã de três de janeiro de 2020, fomos recebidos pela proprietária da loja, Otila Cereta Brugnara e sua filha Sinara,
Muito abalados ainda, os funcionários preferiram não dar entrevista. No entanto, Sinara concordou em contar sobre como as coisas aconteceram e como tem sido a volta ao trabalho depois de todo o trauma.
A manhã do dia 31 de dezembro estava prevista para ser tranquila – como era véspera de feriado, os funcionários iriam trabalhar até o meio dia e depois seriam dispensados. Já no abrir a loja, a primeira hora da manhã, foi notado que nos depósitos mais ao fundo, algumas telhas estavam danificadas, esse foi o primeiro fato anormal.
Mais tarde, uma vizinha avisou por telefone, que havia dois rapazes caminhando pela Rua Sete de Setembro, indo e vindo, sempre olhando para a loja. Os integrantes da Casa do Pedreiro avisaram a Brigada Militar. Os policiais, então, foram até o local e fizeram a abordagem dos dois indivíduos, mas como nada de suspeito foi encontrado, eles foram liberados.
Daí em diante, Sinara contou que os funcionários começaram a ficar com uma sensação de insegurança, talvez pressentindo o drama que iriam viver logo em seguida. Um dos funcionários olhou a frente da loja e aparentemente estava tudo normal. Daí um pouco, entre 9h30min e 10h, os dois criminosos entraram pelo corredor lateral, de bicicleta e encapuzados. Um foi em direção aos fundos, onde havia três funcionários; o outro entrou na loja. Um dos funcionários que estava nos fundos conseguiu escapar e os outros dois foram rendidos e trazidos para a parte da frente.
Em seguida, os portões foram fechados. Uma cliente que estava chegando à loja, vendo os indivíduos encapuzados fechando o portão, imediatamente ligou para a Brigada Militar. Uma funcionária que estava no banheiro, também percebeu o assalto e ligou para a polícia, permanecendo todo o tempo escondida. Logo em seguida a primeira viatura da Brigada Militar chega. Quando os bandidos percebem a presença dos policiais, levam todos os reféns, no total, seis pessoas, sendo dois deles clientes, para a parte superior, onde fica a residência dos proprietários. Um filho da proprietária da loja que estava no quarto, lá permaneceu escondido.
Durante todo o tempo, os bandidos afirmavam que não iriam machucar ninguém e que só queriam sair com dinheiro. Um funcionário e um cliente chegaram a ser colocados de joelhos e de costas um para o outro, com as mãos amarradas. Em um momento de descuido, um dos bandidos que estava com os reféns na parte de cima, desce, momento em que um refém tranca uma grade nas escadas. Um dos reféns, funcionário da empresa, vendo a oportunidade, consegue fugir por um alçapão.
Nesse intervalo, os bandidos reviraram tudo na loja, a procura de dinheiro. Como não encontraram, resolveram subir, mas se depararam com a grade trancada. Eles então arrebentam a fechadura com uma marreta e pé-de-cabra. É importe mencionar que nessa altura dos acontecimentos, a Brigada Militar e a Polícia Civil já estavam no local.
Quando os bandidos, finalmente conseguem passar a grade, encontram os reféns escondidos em um banheiro. Eles tentam convencer eles a sair, mas com medo, eles relutam. Em determinado momento falam para os reféns que se alguém estivesse se sentindo mal, eles iriam liberar. Esse é o momento que Otila é liberada, o que aos poucos vai se repetindo.
O que impressiona é que mesmo com a quadra cercada por policiais, sem a menor chance de fugir, eles continuavam procurando e dizendo que precisavam de muito dinheiro, esboçando muito nervosismo. Outro detalhe relatado pelas vítimas é que durante todo o tempo um deles falava ao celular.
Por fim, percebendo que o plano não obteve êxito, o último refém foi liberado e eles se entregam. A partir daí, todos conhecem a história que foi amplamente reportada pela Qwerty Portal de Notícias.
Sinara, que estava em Santana do Livramento, acompanhou tudo pelas redes sociais. Ela parabeniza e agradece o profissionalismo e competência da Brigada Militar e da Polícia Civil que mais uma vez conduziram exemplarmente uma situação de extremo risco, onde todos os envolvidos saíram ilesos.
A volta ao trabalho é difícil, mas necessária, disse Sinara, uma vez que ocupar a mente ajuda a esquecer do ocorrido, se é que isso é possível, algo que talvez somente o tempo trará. Ela disse também, que em 47 anos de existência da loja que é uma das mais tradicionais de Dom Pedrito, esse foi o primeiro evento do tipo.
Ela agradeceu também o apoio da comunidade pedritense que continua se solidarizando com a situação, prestando apoio moral à família e funcionários da Casa do Pedreiro; aos meios de comunicação que cobriram e informaram a comunidade sobre o que estava acontecendo.
“Dom Pedrito está precisando de um olhar maior das autoridades, porque faz muito tempo que não víamos a cidade dessa maneira, tudo está relacionado ao tráfico de drogas. As medidas de austeridade com relação ao tráfico e esse tipo de violência devem perdurar”, desabafou Sinara ao fim da entrevista.