RS vive os primeiros sinais da passagem de uma epidemia para uma endemia
Caso cenário se confirme, Estado deve manter bons indicadores e registrar apenas casos concentrados de novos surtos

Mais de 20 meses depois do início de uma crise sanitária global provocada pelo coronavírus, o Rio Grande do Sul antevê os primeiros sinais de um processo de passagem de uma epidemia para uma endemia. Com quase 60% da população completamente vacinada, um dos melhores desempenhos do país, explosões de grandes surtos e colapso na rede hospitalar devem ficar mais distantes. As declarações são do virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-Ômica, iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que investiga quais cepas circulam no país.
“Estamos entrando numa fase que começamos a ver os primeiros sinais de um processo de endemização. A gente não está livre da geração de novos surtos, mas vemos que o número de indivíduos internados em UTIs atinge muito mais pessoas sem esquema vacinal completo ou idosos acima de 80 anos, que ainda não tiveram a oportunidade de fazer a dose de reforço”, explicou Spilki. De acordo com o especialista, caso o cenário de endemia se confirme, novos surtos devem ocorrer em pequenas proporções e ficar concentrados em asilos, hospitais e locais com aglomerações.
A endemia é caracterizada pela ocorrência recorrente de uma doença em determinada região, mas sem um aumento significativo no número de casos. Ou seja, a população convive com ela. Um exemplo de caráter endêmico no Brasil é a dengue, que ocorre durante o verão em certas regiões.
“O único jeito de debelar uma endemia é o avanço muito forte na vacinação, alcançando o máximo de pessoas com as duas doses do imunizante”, apontou. Outro entrave enfrentando no Brasil, assim como em diversos países, é a falta de autorização de vacinas contra Covid para crianças menores de 12 anos. Enquanto esse grupo não é incluído no Programa Nacional de Imunizações (PNI), o virologista defende a manutenção de protocolos sanitários como uso de máscaras, limite de ocupação em espaços fechados e passaporte vacinal para participação de eventos.
O especialista descarta a possibilidade de novos picos de contágios e mortes impulsionadas por variantes, como ocorre hoje na Inglaterra. O país atingiu na semana passada os níveis de contágio mais altos desde janeiro quando estava em “lockdown” para conter a disseminação do vírus. “Nós apostamos que não vai haver novos surtos em grandes proporções. Até por causa do impacto que a variante Gama gerou, não imaginamos ver aquele filme de novo. Sei que em outros países da Europa estamos vendo isso acontecer. Hoje, maioria deles não tá conseguindo avançar no número de vacinados, como na Rússia, ou estão sofrendo cm os níveis de flexibilizações e não uso de máscara, como é o caso da Inglaterra”, justificou.
Fonte: Correio do Povo