Bagé lidera geração de empregos entre municípios da região
Dom Pedrito, a 75,1 km, foi o que mais registrou queda no número de empregos formais
Em pesquisa realizada pela reportagem do jornal Folha do Sul, Bagé apresenta o maior saldo positivo na geração de empregos formais em 2018 – trabalhadores com carteira assinada. Os dados de maio foram divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em 20 de junho. A partir das informações obtidas, foram elaborados gráficos da evolução do mercado de trabalho neste ano dos municípios com distância de até 100 quilômetros da Rainha da Fronteira.
Em relação a maio, Bagé registrou a perda de 82 postos de trabalho em relação às contratações. Contudo, o acumulado no ano é de 176 novos empregos gerados. O município acompanhou a tendência do Estado, que no mesmo mês computou redução de 10 727 vagas, o que diminuiu a ascendência da curva positiva de geração de empregos. Até a última parcial divulgada do ano, a cidade possuía 17 471 vínculos formais.
Ressalta-se que devido à pesquisa do Caged/MTE restringir-se a um único segmento da População Economicamente Ativa, não estão incluídos os dados referentes a profissionais liberais (psicólogos, médicos, advogados, fisioterapeutas etc); forças militares; funcionários públicos das esferas federal, estadual e municipal; além de Microempreendedor Individual (MEI), Microempreendedor (ME), trabalhadores autônomos (taxista, tabalhadores freelancer, consultor, vendedor ambulante e outras atividades); trabalhadores informais, estagiários, bolsistas, pensionistas ou beneficiários de programas sociais.
Região
A Princesa da Fronteira, Aceguá, a 62,9 km de Bagé, teve redução de quatro vagas em maio e as profissões com maior variação de contratações no mês foram as de assistente administrativo (+três) e de trabalhador da cultura do arroz (-três).
Com vocação ligada à extração mineral e geração de energia, Candiota, a 60,9 km, congrega o maior número proporcional de trabalhadores formais em relação aos habitantes. Conforme o Caged, 33,11% dos 9 406 candiotenses exercem atividade remunerada com registro em carteira. Em maio, a Capital do Carvão fechou 112 postos de trabalho, com diminuição nas vagas ocupadas pelas profissões de pintor de estuturas metálicas (-25), eletricista de instalações (-15), montador de máquinas (-15) e montador de equipamentos elétricos – motores e dínamos (-14).
Em Lavras do Sul, o mercado de trabalho permaneceu estável em maio, com uma única vaga preenchida durante o mês. Os profissionais mais contratados foram os ofícios de carregador – armazém (+cinco) e trabalhador agropecuário em geral (+dois). O município, localizado a 83,3 km de Bagé, tem saldo positivo neste ano de 47 empregos formais.
O único caso que não possui registro de variação em maio nas contratações e desligamentos aconteceu em Pedras Altas, a 99,7 km, que se manteve estável. No ano, o saldo é negativo, com sete vagas fechadas.
Por sua vez, em Pinheiro Machado, as estatísticas evidenciam o ganho de três postos de trabalho no último mês, e o saldo de 2018 é de 44 novos empregos gerados. Os profissionais com mais contratações em maio são de operador de caixa e auxiliar de escritório (+três); vendedor, vidraceiro e operador de colhedor florestal (+dois); enquanto o saldo negativo ficou para atendente de farmácia – balconista (-quatro).
Saldo negativo
O município de Dom Pedrito, a 75,1 km, foi o que mais registrou queda no número de empregos formais no último mês, com redução de 245 postos de trabalho. O destaque negativo da Capital da Paz diz respeito à produção agrícola, com a redução de vagas acentuada para os ofícios de alimentador de linha de produção (-95), trabalhador volante da agricultura (-43), trabalhador da cultura do arroz (-30), estivador (-21) e trabalhador agrícola em geral (-19).
Hulha Negra, a 29 km da Rainha da Fronteira, teve queda de 26 postos de trabalho em 2018. No último mês, as categorias que mais tiveram redução foram de auxiliar de escritório (-35) e alimentador de linha de produção (-6).
O único caso que não possui registro de variação em maio nas contratações e desligamentos aconteceu em Pedras Altas, a 99,7 km, onde se manteve estável. No ano, o saldo é negativo, com sete vagas a menos que em janeiro.
Prognósticos
Para compreender quais são os reflexos práticos das estatísticas, a reportagem entrevistou o economista e professor Eduardo Palmeira, que avaliou os resultados da região nos últimos cinco meses. Conforme o economista, a abertura de novos canteiros de obras impulsionou a geração de empregos, especialmente em Bagé. “A construção civil é notadamente o segmento que mais rapidamente absorve e desliga mão de obra. O investimento em Bagé do Minha Casa, Minha Vida foi muito importante para a região. Foram mais de 100 contratações diretamente ligadas à construção civil neste ano. A contratação deste contingente ocasiona a criação de outros postos de trabalho devido à alta demanda de serviços que envolvem os empreendimentos, direta e indiretamente, o que movimenta a economia da região. Tudo isso está interligado”, destacou.
“Foram mais de 100 contratações diretamente ligadas à construção civil neste ano. A contratação deste contingente ocasiona a criação de outros postos de trabalho devido à alta demanda de serviços que envolvem os empreendimentos, direta e indiretamente, o que movimenta a economia da região. Tudo isso está interligado.”
Segundo Palmeira, os oito municípios da região delimitada pela reportagem, na maioria dos casos, possuem a matriz econômica mais fortemente ligada ao setor rural, que é regido por ciclos e têm como características de serem afetados por fatores externos. “No último mês, nós observamos uma grande movimentação no setor e são conhecidos os efeitos relacionados a acontecimentos importantes, por exemplo, a paralisação dos caminhoneiros. Outra razão é término da safra, quando muitos dos trabalhadores do setor são desligados e precisam mudar de atividade. O que se percebe é que cada vez mais, seja para trabalhar no campo ou na cidade, a qualificação tem sido mais necessária. Para se manter empregado, é preciso aperfeiçoar-se constantemente, ou seja, existe uma diferença importante entre tão somente ‘ter um emprego’ e ‘trabalhar’”, detalhou.
“Para se manter empregado, é preciso aperfeiçoar-se constantemente, ou seja, existe uma diferença importante entre tão somente ‘ter um emprego’ e ‘trabalhar’”.
Outra razão ligada à sazonalidade que também afeta o mercado de trabalho na região e pode refletir negativamente nas estatísticas dos municípios, segundo Palmeira: “É preciso investir e tornar a região mais atrativa para empreendedores locais e de outras regiões para absorver a mão de obra. A razão disso é que a maioria dos vínculos não são perenes, ou seja, são contratos com tempo predeterminado, com início, meio e fim. A instalação de um empreendimento de médio a grande porte contribui para diminuir a parcela da população ociosa durante os períodos de baixa na oferta de postos de trabalho”, complementou.
Compasso de espera
Para Palmeira, a tendência dos próximos meses é que o se mantenha um ritmo baixo de contratações, devido à instabilidade econômica e política do país. “Até as eleições, dificilmente o quadro deve se alterar, devido à desconfiança do mercado com a situação política, o que interfere diretamente nos investimentos. Acredito que será motivo de comemoração o fato destes municípios terem saldos positivos até o fim do ano, ainda que próximos do zero”, argumentou.
Alternativas
Em relação aos trabalhadores rurais o economista detalhou uma prática que tem sido desenvolvida no estado do Mato Grosso: “As negociações têm seguido dois caminhos. Um deles é formação de cooperativas de trabalhadores, que teriam participação nos lucros da empresa, fornecendo serviços aos produtores e mantendo o vínculo formal para ter remuneração fora do ciclo da safra. Outra medida é a de negociar diretamente com o empregador, preferencialmente de forma coletiva, a possibilidade de reduzir o salário nos períodos de baixa no setor, para manter o vínculo enquanto realiza atividades secundárias à produção rural, também em jornada reduzida, se necessário. Obviamente, não é o tipo de ação desejada para um trabalhador assalariado, mas pode contribuir na geração de renda em épocas de baixa demanda, ainda mais durante a situação de estiagem que enfrentamos”, sustentou.
Para a geração de empregos nas cidades, Palmeira ressaltou a necessidade de um banco de dados atualizado, acessível, transparente e confiável para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento local e regional. Além disso é necessária aproximação e integração entre os setores produtivos, para que se avaliem as necessidades e se estabeleçam metas e ações para obter o crescimento econômico. “O desenvolvimento não depende somente do investimento público. É preciso construir as condições em conjunto para se desenvolver e reduzir a burocratização”, encerrou.
Fonte: Folha do Sul