Aos 91 anos de idade, morre Paixão Cortes
Tradicionalista estava internado em hospital em Porto Alegre

Homem que se transformou em símbolo do gauchismo, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes morreu nesta segunda-feira (27) aos 91 anos. O folclorista, referência no estudo — e na própria formatação — da identidade do gaúcho, deixa como legado aquilo que só cabe na biografia dos mais importantes pesquisadores: sua imagem se confunde com a do objeto que ele dedicou a vida a desvendar. As informações são do site da Gaúcha ZH.
Nascido em Santana do Livramento em 12 de julho de 1927, filho de pai agrônomo e mãe com dotes musicais, Paixão carregou as duas marcas na paleta: formou-se em Agronomia na UFRGS, exerceu a profissão e chegou a ser funcionário da Secretaria de Estado da Agricultura, mas nunca negou a vocação para o trabalho com a música e as danças características da região onde viveu. Em 1939, aos 12 anos, mudou-se com a família para Uruguaiana. Em meados da década de 1940, já estava instalado na Capital — onde havia estado pela primeira vez durante o centenário da Revolução Farroupilha, em 1935 — estudando em regime de internato no IPA.
A morte do pai foi decisiva para que se matriculasse no Colégio Júlio de Castilhos. Lá, estudando à noite, já tomado pela ideia de pesquisar e fortalecer os costumes do gaúcho frente à pressão de bens culturais externos como dos EUA. Firmou parceria com Barbosa Lessa, que descreveria como um “guri pequeno e magrinho”, e acabaria por se tornar seu principal parceiro na formatação do movimento tradicionalista.
Ao longo das décadas de 1940 e 50, ao lado de Lessa e do Grupo dos Oito (turma de amigos do Julinho empenhados na pesquisa da tradição gaúcha), Paixão foi o mentor de uma série de solenidades que visavam a chamar a atenção para os símbolos socioculturais do gauchismo: a Chama Crioula (criada em 1947, como uma extensão da Chama da Semana da Pátria), o Desfile dos Cavalarianos, a Ronda Crioula (que, nos anos 1960, deu origem à Semana Farroupilha), e o primeiro Centro de Tradições Gaúchas, criado em 1948 com o nome de 35, por Côrtes, Lessa, Glauco Saraiva e Hélio José Moro.
Não foi à toa que, em 1954, quando da criação da escultura do Laçador, símbolo do gaúcho, o autor Antônio Caringi bateu à porta de Paixão Côrtes em busca de um modelo para a estátua que se encontra próximo ao Aeroporto Internacional Salgado Filho. A fundação do CTG 35 acabou por inaugurar uma senda de centros de cultura semelhantes, que hoje estão espalhados por todo o mundo. Mas o trabalho de Paixão e Barbosa Lessa estava apenas começando.
Entre 1949 e 1952, a dupla estudou e catalogou mais de duas dezenas de danças praticadas no Rio Grande do Sul, para fundar, no ano seguinte, o grupo de dança Os Tropeiros da Tradição. As pesquisas também deram origem, em 1956, ao Manual de Danças Gaúchas e ao LP Danças Gaúchas, em que a cantora Inezita Barroso gravou sua voz no que é considerado o primeiro registro em fonograma do resultado das pesquisas dos folcloristas.