Dom Pedrito é a cidade gaúcha que menos investe e sofre com estradas esburacadas

Uma reportagem publicada pelo Jornal Zero Hora afirmou que Dom Pedrito registrou o menor percentual de investimento no ano passado, com 1,83% da receita aplicado em melhorias. Segundo a reportagem do ZH, a estatística leva em conta as despesas de capital registradas no TCE, isto é, as aplicações relacionadas à realização de obras e à aquisição de máquinas, equipamentos, imóveis e materiais permanentes, incluindo a amortização de dívidas, em valores liquidados.
A desidratação na arrecadação da cidade provocou impacto em áreas importantes como a manutenção dos cerca de 2,5 mil quilômetros de estradas vicinais que escoam a produção agrícola. Castigadas por pesadas chuvas, as vias de chão batido por onde passam caminhões carregados de soja e arroz ficaram repletas de crateras, barreiros quase intransponíveis e desníveis superiores a meio metro ao longo das rotas rurais.
Com o caixa enfraquecido, a prefeitura não teve condições de recuperar, nivelar ou lançar cascalho sobre toda a malha viária interiorana. Em razão disso, dezenas de caminhões carregados com a safra atolaram, ficando presos ao longo de vários dias e só conseguiram seguir viagem puxados do atoleiro por potentes tratores trazidos pelos próprios produtores. Alguns resolveram assumir as funções públicas e providenciaram maquinário por conta própria para reformar trechos mais danificados de estradas como a do Campo Seco, na zona rural.
Entre os agricultores prejudicados, está Élvio Antônio Marchezan, 50 anos, que teve caminhões atolados e enfrenta três quilômetros de estrada de chão semidestruída entre o asfalto mais próximo e sua propriedade onde cultiva soja, arroz e cria gado.
— Uma meia dúzia de caminhões com carga nossa já atolou no período de chuvas e precisou ser puxada por trator. Mas já teve até trator que atolou também — afirma Marchezan.
— Tivemos de estabelecer prioridades em razão da crise financeira. Escolhemos dar preferência ao pagamento do funcionalismo, demos um reajuste de um ponto percentual e meio acima do previsto por lei, e as parcelas do 13º salário foram pagas no prazo. Fizemos isso em detrimento de obras — justifica Bastos.
O prefeito argumenta que, apesar dos cortes, está investindo em um centro cultural, na construção de uma praça e aplicou cerca de R$ 1,5 milhão em 1,4 mil quilômetros de vias vicinais no ano passado. O recurso não é suficiente para garantir boas condições de tráfego em toda a extensão do município, segundo Bastos, em razão do alto custo da aquisição de cascalho e do óleo diesel necessário para transportar o material e colocar em operação as máquinas capazes de nivelar o solo.
— As chuvas provocadas pelo fenômeno El Niño complicaram ainda mais a situação — diz o gestor.
Uma das saídas articuladas em Dom Pedrito para ampliar o investimento nas rotas que escoam a produção é a criação de um fundo de manutenção e recuperação de estradas rurais. Gerido por um conselho com representantes da prefeitura e da sociedade civil, o chamado Fundestradas deverá ser abastecido por um percentual fixo da arrecadação municipal a fim de manter as vias transitáveis — requisito fundamental para a economia da cidade.
— O conselho foi criado no ano passado, mas ainda vai levar uns três, quatro anos para dar resultado prático — avalia o agricultor Élvio Marchezan, um dos representantes do Fundestradas.
O atual prefeito não deverá testemunhar os desdobramentos dessa iniciativa. Entre as razões que o motivaram a anunciar a desistência de tentar se reeleger estão os apelos da família e o desgaste pessoal.
— Meus familiares me pediram para não concorrer mais. A situação é muito difícil — resume Bastos.
Por: Marcelo Gonzatto e Juliana Bublitz/Zero Hora