Dom Pedrito – Recorde de maior poliglota do mundo é de pedritense
O Professor aposentado Carlos Amaral Freire, 82 anos, bateu o recorde mundial de aprendizado de línguas, no último dia 11 de junho, totalizando um total de 115 línguas no currículo. O recorde anterior era do cardeal italiano Giuseppe Mezzofanti (1774-1849), do século 19, a quem era atribuído o feito de poder traduzir 114 línguas.
Carlos Amaral Freire é natural de Dom Pedrito, nasceu em 27 de outubro de 1931. Filho de Sebastião Dalísio Freire, despertou-se para as línguas muito cedo. Tinha um tio espanhol muito culto, que possuía uma vasta biblioteca, na qual havia muita literatura hispânica e italiana. "Eu me interessei em aprender italiano", conta Carlos, que cedo aprendeu espanhol por viver numa região de fronteira e escutar o "portuñol", um idioma híbrido de português e espanhol misturado com pitadas de gramática própria.
Em 1961, aos 30 anos de idade, formou-se na faculdade de Letras Neolatinas da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio Grande do Sul. Naquela mesma universidade, formou-se em 1966 em Letras Anglo-Germânicas.
Seu currículo, tais como suas 115 línguas, é vasto. Resumindo-o, Carlos trabalhou como professor primário, secundário e universitário. Começou como professor de Português, Espanhol, Inglês e Francês. Na medida em que foi aprendendo idiomas, Freire recebia convites para lecionar em Universidades e trabalhar como intérprete. Trabalhou no governo do Estado do Rio Grande do Sul e Petrobrás, entre outros lugares.
Tornou-se tradutor juramentado de 12 idiomas e conheceu o mundo devido às infinidades de bolsas de estudo que ganhou para fazer cursos em Universidades de vários países do mundo. Na Universidade do Texas (EUA), estudou Linguística; na Espanha fez Pós-graduação em Filologia românica. Aproveitou sua estadia na Espanha e fez um curso diferente do que estava habituado a fazer: "Relações internacionais" na famosa Escola Diplomática de Madri.
Na Itália, ganhou uma bolsa para aprofundar-se no estudo da língua Egípcia. Adorador do escritor russo Dostoievski, Freire estudou com afinco o idioma russo para lê-lo no original. Carlos saiu do Brasil e rodou o mundo fazendo cursos e participando de Congressos linguísticos. Entre 1980 e 1990, morou na Bolívia. Era o adido cultural da Embaixada do Brasil naquele país. Foi convidado a ser "Leitor". Esta palavra, muito usada no meio acadêmico, designa um professor estrangeiro que se transfere para uma universidade do exterior com o objetivo de lecionar curso de sua língua materna.
Carlos publicou poucos livros ao longo de sua vida: apenas seis. O último dos quais uma coletânea de poemas traduzidos de 60 línguas, chamado "Babel de Poemas". "Não é fácil conseguir publicar algo no Brasil", resume Freire. Entre suas monografias, escritas em Português ou em Espanhol, está "La intraducibilidad de la poesia china" (1991), um estudo inédito sobre o tema.
Em 1998, Carlos Freire foi convidado a implantar o curso de Português na universidade de Belgrado, capital da Iugoslávia. Lá, saiu da rotina de leituras, estudos e trabalho mental silencioso da escrivaninha. Logo estouraria a guerra do Kosovo ("Kosôvo", explica Freire, não "Kôsovo", como pronuncia o brasileiro). "Os alunos que estavam fazendo o curso de Português não foram mais à aula por causa dos bombardeios", conta Freire. Freire foi entrevistado por um jornalista da Macedônia, província da Iugoslávia. O repórter perguntou se a entrevista poderia ser em macedônio. O professor respondeu que ainda não porque havia começado a estudar essa língua havia poucos dias.
Um mês depois, o mesmo jornalista solicitou uma nova entrevista com o professor Freire. “Agora o senhor pode me entrevistar em macedônio”, disse Carlos em perfeito macedônio ao repórter, que ficou espantado com a rapidez com que Freire aprendeu aquela língua. Entre as 110 línguas que Carlos Freire aprendeu, encontra-se o "Esperanto", idioma inventado por um médico de origem judaico-polonesa chamado Lazar Ludwig Zamenhof (1859-1917). "É uma língua brilhante. Só não se tornou hoje a língua internacional por causa de interesses políticos dos Estados Unidos e outros países do 1º mundo", explica.
Em conversa com nossa reportagem, o professor Freire que mora hoje em Santa Catarina, disse que “atualmente estou revisando algumas línguas, pois a necessidade de se manter atualizado com as mudanças. Mas ainda até o final deste ano passarei a estudar pelo menos o siciliano, que é uma língua românica falada na Sicília e na extremidade meridional da Itália.”