Dom Pedrito – ONG Amigo bicho denúncia falta de cuidado com os animais
Em visita surpresa ao Canil Municipal de Dom Pedrito, na tarde de sexta (28), integrantes da ONG Amigo Bicho, disseram constatar verdadeiras cenas de um crime e de insanidade, com filhotes ao redor do canil morrendo a mingua e aos poucos.
Segundo Anne Fagundes, vice-presidente da ONG, “um dos animais curiosamente dentro do canil, já estava morto, e provavelmente tenha perdido sua vida por falta de cuidados, vermífugo e alimento. Outra cadela com tumores sabe se lá se é cuidada ou se é menos prezada pelos veterinários da Prefeitura Municipal”. De acordo com a vice-presidente da ONG, muitos alimentos estão velhos nos cochos, e os animais brigam entre si. “Ouvimos latidos, como se fossem gritos de socorro, como se dissessem me tirem daqui. Dói e dá um nó na garganta ver todas aquelas vidinhas morrendo aos poucos, não se sabe de onde são se nasceram dentro do canil, já que a vigilância sanitária, não tem ao menos uma ficha de identificação para cada animal”, complementa Anne.
“Sou contra aquela cadeia de sofrimento, pois estes animais não fazem nada no mundo, a não ser nascer devido à falta de controle de órgãos e a falta de conscientização dos humanos que os abandonaram”, acrescenta Anne. Anne Fagundes acredita que o canil municipal deveria ser demolido e os animais deveriam ser castrados e devolvidos as ruas. “Infelizmente, houve uma estagnação. E nós da ONG Amigo Bicho, deveríamos ter mais apoio para realizarmos as feirinhas de animais e tirarmos todos os que já sofreram por estar vivendo naquela tortura”, revela Anne.
A nossa reportagem, ela disse ainda, que seria necessário um plano emergencial e um maior apoio da prefeitura municipal, para realizar castrações nos bairros pobres, e aos poucos diminuir o número de animais errantes nas ruas, realizando auxílio como um SUS para animais de rua feridos.
“Depois de projetos, de reuniões e de falta de apoio, a ONG espera que estas denúncias sejam lidas e ouvidas, pois esta é uma causa social que deve ser controlada, é um problema de saúde pública somando a casos de zoonoses”, afirma Anne. Anne Fagundes terminou dizendo que, “irei denunciar o canil da cidade no ministério público, com todas as fotos que temos, porque cansei de esperar por uma mudança de atitude em relação ao local. O canil municipal é uma tortura, um crime aos olhos de todos que tenham decência”.
Logo após tomar conhecimento das denúncias, nossa reportagem foi até o local para verificar as condições em que se encontravam os animais. Ouvimos alguns moradores da região, que foram unanimes em dizer que todos os dias pela manhã, Éber Machado Goularte, Auxiliar de Serviços Gerais, da Vigilância Sanitária, vai até o Canil Municipal, realiza a limpeza das peças retirando as fezes e lavando logo em seguida por causa da urina. Os mesmos disseram também, que ração também é dada diariamente nesta visita que é feita.
Ou seja, quanto à questão de limpeza e alimentação os animais estão bem assistidos. Mas pesa em contrapartida o item saúde, que deveria ser acompanhado por um veterinário responsável, coisa que não acontece. Não existe ninguém desta área desempenhando a função no canil, com conhecimento necessário para curar os animais quando os mesmos apresentem qualquer tipo de problema. Outro risco evidente no local para os animais, é que ele é de livre acesso a qualquer pessoa, sem controle algum de entrada ou saída. E assim, como um filhote foi jogado para dentro com os animais maiores, coisas piores podem vir a acontecer colocando todos os que estão ali em risco. E neste caso, a ONG tem razão, mas não se pode culpar aqueles que estão tentando fazer o máximo pelos animais que ali foram deixados.
Como a Vigilância Sanitária foi citada na matéria, fomos ouvi-la a fim de dar um direito de resposta sobre o assunto. Prontamente fomos atendidos pela Fiscal de Saúde, Iala Maria Quadros e o Auxiliar de Serviços Gerais, Éber Machado.
Segundo Éber, “o cãozinho que foi fotografado pelo pessoal da ONG, na verdade não é do Canil Municipal, mas sim foi deixado junto com outros oito animais, do lado de fora. O que provavelmente aconteceu, é que alguém de fora entrou no local, que é uma área delimitada apenas por arame, e tenha jogado este filhote para dentro com os outros cães”. “Retirei ele na manhã de domingo (30), pois venho diariamente para limpar e dar ração a todos eles”, disse Éber.
Esta versão de que ele vai todos os dias limpar o local e dar comida aos animais, já havia sido corroborada com o depoimento de vários moradores que ouvimos, e vivem próximos ao canil. O único animal que encontramos machucado no local em nossa visita foi um cão da raça fila, que perdeu um pedaço do rabo em uma briga. Mas o mesmo vem sendo tratado pelo auxiliar Éber, que relatou ainda a perda de outro animal há dias atrás, pois o mesmo estava com um tumor bem avançado.
Iala falou que, “a grande maioria dos animais recebidos parecem cadáveres, de tão fracos e magros que chegam ao canil, mas que em média, depois de 15 dias eles já estão recuperados, tratados e alimentados adequadamente”.
“As brigas no canil, são inevitáveis pela quantidade de animais que temos, e o espaço que eles disputam. Mesmo assim, todos ficam separados em peças de acordo com a sua agressividade”, disse Éber Machado. Iala assim como Anne, disse também que, “como ser humano, a minha vontade era chegar e abrir os portões para que eles fossem embora, pois são apenas cinquenta, e nas ruas da cidade hoje tem vinte mil animais à solta. Mas que mesmo assim, existem algumas vantagens para estes que estão no canil, como por exemplo: ter um lugar onde se abrigar do frio e da chuva, comida e todos são verminados e vacinados ao chegar”.
Em relação à falta de veterinários, Iala disse que, “eles estão vinculados a Secretaria da Agricultura e não a da Saúde. Mesmo assim, prestam suporte quando chamamos, e dizem o que devemos dar e fazer. Não é o ideal, pois eles não metem a mão na massa como a gente diz em virtude da falta de um ambulatório e de uma estrutura adequada para trabalhar, e desta forma colocariam em risco a sua profissão”.
Segundo ela, o argumento usado por eles tem base no código de ética dos veterinários do rio grande do sul, que exige condições mínimas de trabalho e que o local hoje não oferece. Éber Machado acrescenta ainda outro problema grave, que acontece quase todos os dias. “Muitos animais são soltos no canil durante a noite, quando não tem ninguém presente. Quando chego pela manhã e encontro algum animal dentro do local, e que não tenha sido colocado por nenhum de nós, imediatamente este é solto, pois não sabemos em que condições foram deixados ali”.
“Teve uma vez que cheguei pela manhã, e seis filhotes tinham sido colocados durante a noite junto com os maiores e o resultado foi que todos foram mortos pela insanidade de uma pessoa que não sabemos quem é”, completou Éber.
Por: Marcelo Brum – FENAJ 6634
Setor de jornalismo: [email protected]
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